Acredito muito que certas coisas que vimos durante nossa vida ficam guardadas na memória, mesmo que bastante escondidas.
Tenho a lembrança, de quando criança e fuçando as coisas da minha avó, encontrei um livro (não me recordo se era a Bíblia, se era "A Divina Comédia", de Dante Alighieri, ou se era o poema "Paraíso Perdido", de John Milton).
Abrindo o livro e revirando as suas páginas, me deparei com algumas ilustrações e gravuras, com uma precisão absurda e cenas fantásticas, que me deixaram sem chão no momento. Haviam anjos caídos, demônios lutando, cenários sombrios de penhascos e pedras e corpos. Meu pensamento me levou a fantasiar como como um ser humano, com suas próprias mãos, conseguia retratar o céu e o inferno, suas asas e armaduras. Passei semanas, meses, acredito que até anos, com as imagens na cabeça.
Muitos anos se passaram e já aluno da Casa me deparei com um livro ilustrado por Gustave Doré (o livro é Dom Quixote de la Mancha - indico totalmente) e pesquisando mais sobre sua história e seus trabalhos, descobri ser o mesmo artista do livro que encontrei nas coisas da minha avó. Doré se tornou para mim um Deus com todo o poder em suas mãos.
Quem me conhece sabe o quão sou apaixonado pela técnica hachura com a caneta nanquim ou com o bico de pena, diretamente por conta de Doré, as suas gravuras me inspiraram a ser e a continuar sendo um artista.
Ta doido, o cara é bom!! Adorei a história!