Calangos do céu, originalmente como chamava esta historia, foi concebida em 2001, na oficina de quadrinhos no Centro Cultural Oswald de Andrade. No seu primeiro formato ela tinha 10 paginas, e compunha Naipe 1, zine que foi concebido durante esta oficina.
Pois bem, explicar minha influências e como foi concebida, para mim, não é ainda bem um esforço de memória. A oficina era ministrada pela arte educadora Bethânia Libânio. no primeiro dia ela instigou a criatividade do grupo usando cartões com gravuras e fotos de variadas expressões artísticas para que fossem escolhidas ao gosto de cada um, e pediu que se explicasse o porquê da escolha. Escolhi uma fotografia de vaqueiros com suas vaquinhas modelados em argila, arte original do Mestre Vitalino, artista popular de Caruaru PE, terra onde vivi dos 2 aos 12 anos de idade antes de vir para São Paulo com minha família. Quem conhece Caruaru e o Mestre Vitalino, sabe que este é motivo de muito orgulho na identidade local, assim como São João, o forró, e nomes como Jassinto Silva e Azulão representando esta identidade musical. Luiz Gonzaga também cantou mais de uma vez o forró de Caruaru, assim como Jackson do Pandeiro.
A identidade cabocla, sertaneja, e matuta permeou minha formação, assim como permeia e é influência na arte da maioria de artistas de pernambucanos que conhecemos. Bom, Chico Sciencie e o manguebeat só ajudou a fomentar esta minha busca de identidade artística natural, os ecos do movimento do começo da década de noventa foram uma injeção de autoestima fortíssima para nordestinos no Brasil inteiro, e referências de ficção científica e histórias em quadrinhos são muito fortes ainda hoje nos remanescentes do movimento. Bom, voltando à história que posto aqui, o que posso dizer é; que tem toda essa mistura, e uma autoafirmação de identidade com forte influência de causos sobrenaturais e ufológicos dos mais variados, comum em toda cultura rural brasileira, com fortíssimas pitadas de Arquivo-X, primeira série televisiva da qual virei fã incondicional à época.
Textão né galera? Quem lê textão hoje em dia? Bom, tenho muito carinho por esta história, e ela representa muito uma mudança de olhar sobre uma expressão que desde muito cedo (desde que me conheço por gente) me influenciou e foi marcante e presente durante toda minha vida.
Ainda aproveito para explicar que republiquei neste formato atual, uma tiragem bem pequena dessa história em um zine em formato de cordel. E o texto inicial explica isso e o porquê.
Bom, boa leitura a todos
Link para a leitura da HQ: https://issuu.com/renoirsantos/docs/calangos-do-ceu